sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Emana do Povo




Como se não bastassem as diversas denúncias de corrupção comuns nos quatro anos em que o PT governa o país, a poucos dias das eleições de 2006, aparecem novas provas do envolvimento do partido, que deveria ser dos trabalhadores, em esquemas ilícitos.

Depois de ver seus principais assessores na presidência caírem após denúncias, o “blindado” presidente da república, parece preocupado que desta vez seja manchado. É interessante como ele desaparece nesses momentos e se esconde por trás de seus aliados, que vão deixando o governo, um de cada vez. Quando a poeira abaixa, ele volta com a pose de quem exige investigações.

Os partidos da oposição esperam que essas denúncias derrubem a porcentagem de votos em Lula. No entanto, a últimas pesquisas apontam que o presidente ainda será eleito em primeiro turno. A dúvida é se já houve tempo para que reflexos dos últimos acontecimentos fossem percebidos nas pesquisas. Se sim, Lula continua blindado contra acusações, mesmo que muitos em seu partido e em seu governo estejam envolvidos. Se não, poderemos caminhar a um segundo turno ou a uma virada histórica de seus adversários.

A verdade é que por denúncias muito menores em nossos vizinhos sul-americanos, foram verificadas mobilização nacional e queda de governos. No Brasil, a população continua omissa, como o é desde o episódia da Independência. A evocação de que “um povo heróico*” com “o brado retumbante*”  tenha conquistado a liberdade não é real. A independência brasileira não passou de um acordo familiar que os reis portugueses firmaram para deixar seu filho no poder. Além disso, exigiu-se que o Brasil fizesse sua primeira dívida externa para que a independência fosse reconhecida. Em outras palavras, a independência do Brasil foi comprada. Não houve revolução ou luta popular e, com D Pedro I, os portugueses continuaram a governar o país.

Este não é o único exemplo. A história brasileira está repleta de omissões. A proclamação da república foi uma vitória das elites interessadas em governar. Não foi uma vitória do povo. A luta contra a ditadura militar foi a grande guerra travada pelos brasileiros, mas a maior parte da população se omitiu e aceitou viver numa sociedade oprimida. O impeachment do então presidente Fernando Collor veio após os caras pintadas saírem as ruas e exigirem a queda do governo. Os caras pintadas eram estudantes que, em muitos casos, apenas iam na onda de outros. E o brasieliro comum, que não tinha condições de frequentar a faculdade, continuou escondido em sua zona de conforto.

O país vai continuar a permitir que a omissão supere os desejos de mudanças? Quando Lula foi eleito seu slogan, repetido com ostentação, era: ”A esperança venceu o medo”. Hoje, depois de governar, o PT deixou uma apatia política aparente em todo o país. O povo não acredita mais em mudanças e, por isso, alguns dizem que o melhor é deixar tudo como está, nada vai mudar mesmo. Outros vêem na anulação de seu voto uma forma de externar sua indignação e protestar. No entanto, tudo isso representa mais um exemplo histórico de omissão. Para mudar, é necessário acreditar, votar e valorizar a democracia. Depois das eleições, é preciso cobrar pelas promessas feitas e exigir que elas sejam cumpridas. Se não houver satisfação popular, deve-se ir às ruas, imitar os argentinos e os equatorianos, com panelaços, caras pintadas e exigências claras.

A Constituição Federal diz que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos...**” Tudo o que acontece no governo emana do povo. A falta de reivindicações e exigências representa participação em tudo o que tem acontecimento. A população, simplesmente, aceita os altos impostos, as constantes denúncias de corrupção, a falta de investimentos sociais, entre outros problemas. Acostuma-se a eles e não tem a menor perspectiva de um futuro melhor.
Este é o momento de transformar o país do futuro no país do presente. 

É o momento do brasileiro finalmente soar o seu “brado retumbante” e tornar-se o “povo heróico” cantado no Hino Nacional.

*Hino Nacional Brasileiro
**Constituição Federal – Artigo 1º, Parágrafo único.

Nenhum comentário:

Postar um comentário