sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Alice no País das Maravilhas

Quando me recolhi naquela noite, parecia estar em mais um dia comum. Porém, ao acordar percebi que estava num grande abismo e não parava de cair. Foi quando me lembrei da estória infantil que a muito não ouvia, Alice no país das maravilhas.

Um coelho falante conduziu Alice ao abismo que dava naquele lugar de encantos. Foi assim que aconteceu, e me surpreendi, embora já soubesse da existência desse lugar maravilhoso, no qual poucos chegam e de onde não querem mais sair. Esse lugar tem até nome, Brasília, cidade com maior renda per capita entre as capitais brasileiras. Possui ainda o maior número de casas com computadores. Quer dizer, possui mais computadores que divididos pela quantidade de habitações dá num número muito maior do que a média nacional. Mas, onde está toda essa fartura? Nos palácios e nos quartos de hotel alugados por parlamentares, é claro.

Desta vez, algo diferente estava acontecendo. Um coelho também falante, Roberto Jefferson, que conhecia um sujo esquema de pagamento de um tal de “mensalão”, ao se ver coagido, resolveu contar tudo o que sabia e levar ao abismo a inocente Alice, ou seja, os jornalistas e, conseqüentemente, todos os brasileiros.

Para Alice, as surpresas não acabaram com a mesa de três pernas numa sala escura. Aos poucos, a garota foi descobrindo portas que conduziam a lugares jamais pisados anteriormente. Em nosso país das maravilhosas, as coisas não são diferentes. A cada dia  uma surpresa, que nem sempre surpreende por ter perdido seu impacto diante da freqüência com que acontecem. Alguém paga alguém por apoio a algo, malas e cuecas aparecem cheias de dinheiro, contas no exterior são descobertas. Ninguém parece blindado contra tais acusações, nem mesmo o auto-pronunciado governo das causas sociais pelo fim da corrupção. Os trunfos das campanhas para nada mais servem, senão para demonstrar que a esperança não venceu o medo. Não foi desta vez.

Na estória de Alice todos falavam. Em Brasília, os pressionados falam para não irem sozinhos à lama. No entanto, um de nossos personagens nada vê e nada sabe. Ops, acho que estamos trocando de lenda, agora falamos do Mágico de Oz. O homem de lata sem coração, o espantalho sem cérebro e o leão sem coragem, em nossa história, representam um único personagem, o presidente Lula. Tudo passou na frente de seu nariz, no entanto, a falta de capacidade administrativa, de coragem para afastar os culpados que estavam próximos dele antes que o escândalo explodisse e de sentimento por um povo que o elegeu na esperança de que mudanças significativas seguissem, impediram-no de ver.

No Mágico de Oz, os intentos de todos foram alcançados. Aqui, os julgamentos e cassações continuam, mas os que vão prometem voltar confiando na incapacidade e falta de memória do povo brasileiro. Parece que nos acostumamos a isso. Até a diversão nacional, o futebol, foi contaminada pela corrupção.

Alice acordou de seu profundo sono e tudo estava bem. Infelizmente, nosso pesadelo é mais real do que o Fred Krueger e não há qualquer previsão de uma manhã clara e confortadora.

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